Era uma casa de fumaça,
todinha de fumaça.
Desde a placa na porta
com a palavra lar,
até os santos na parede da sala,
tudo era fumaça.
Filhos de fumaça brincavam,
fazendo de conta que não eram de fumaça,
a mulher, quando dormia,
tinha uma cor acinzentada,
como se estivesse prestes a sair pela chaminé,
e o homem, todo dia,
vestia um paletó de fumaça
e se esfumaçava pelo mundo.
Naquela casa, os sonhos, apenas,
não eram de fumaça.
De carne e osso, sonhavam,
muito além da casa de fumaça,
uma casa de verdade,
sem chaminé,
onde meninos não se dissolvessem,
adultos fossem brancos, negros, amarelos,
não cinzentos, e a placa na porta,
de sólida madeira.
Um dia, veio um vento forte,
e a casa de fumaça, a gente de fumaça
e o lar de fumaça,
em espirais perderam-se no mundo,
como poluição.
Os sonhos, prudentemente,
já haviam fugido muito antes do caos.