Trazia o rio pela mão...

 


Trazia o rio pela mão...
Trazia o rio para casa...
Só um barco o navegava,
só ele agitava as águas
do rio, que por mim entrava.

Trazia o rio pela mão,
no tempo em que um cais havia,
cais que é rasto que persiste
nos meus dias de ser triste,
na paragem da memória,
nestes ventos desiguais
que não são mais os de outrora.
Sabem-me os lábios a sal
" salpicos de rebeldia
de água que nunca foi doce! "
Tenho nos olhos a cor
de mil nevoeiros perdidos...
... e vejo ao longe o farol
dessa outra era, em que o azul,
me afagava os sentidos...!

Trazia o rio pela mão...
Trazia o rio para casa...
E ouve-se ainda o lamento
da sereia que cortava
as veias do sol nascente
" demência de espuma em brasa "
e lá ficava no mar,
a ver-me dobrar a barra,
esperando o dia escoar
para que eu voltasse, de novo,
levando o rio de casa...

Maria Amélia Fernandes

 

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