Salmo da hora insone

 


Senhor, insone dentro da noite que desliza
densa e fria,
nada tenho para ofertar-lhe, a não ser
o coração,
como um vaso frágil
em que se colocassem flores,
não precisamente
colhidas na aurora,
mas
flores tecidas na carne,
fabricadas com sentimentos:
flores de saudade, flores de nostalgia,
flores de desejo, flores de amor,
de pétalas antigas, de pétalas novas,
algumas orvalhadas
de lágrimas...
Elas não têm, Senhor,
o perfume da virtude,
muito menos o da santidade,
mas sim,
o cheiro comum da terra nua
da condição humana
pelo Senhor criada...
Não têm. Senhor
ah! isso não!
O mau odor do ódio,
nem da vingança,
nem do mau querer
nem mesmo da inveja
ou da ambição, porque
com elas,
o Senhor não teceu o coração
da criatura humana,
mas, isto sim,
o cheiro forte, o cheiro cru
simples e natural,
como a terra, como a água
como o sol e o sal
que vem da força,
que vem do desejo de...
amar e
ser amada...

Maria Luiza Reis Pereira Baptista

 

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