Seu Juca era um desses velhinhos inquietos
Que o passar dos anos não tira da vantagem
De ver a vida passar em meio não intelecto
Sem quatro paredes longe da tal vernizagem...
Seu mundo de letras antigas copia da verdade
Nas cores do jardim plantado sem composição
Do estudo das variedades expostas em estande
No brilho de luzes fabricadas a chamar atenção...
Certo dia atendendo convite para formatura
Vestido de paletó e gravata saiu junto ao neto
No orgulho diplomado com papel de cultura
Da natureza criada longe do chão encoberto...
Sorrindo amarelo dos feitos em mãos alheias
Sem a cor de terra e cheiro de cocô de gado
No verde esmaltado de folhas em permeias
Das matizes falsas em formas de doutorado...
Seu Juca espantado com o pé de melancia
Vendo do sol nascer quadrado na caixola
Sentiu ferver os miolos em ver que não via
Da manga com caroço ou do sapo na viola...
Procurando do piso o pisar sentindo da terra
Embaixo junto ao lixo do acaso feito descaso
Da limpeza do infértil broto longe da amarra
Viu duas batatinhas soltas sem estar em vaso...
O neto conhecedor de espécies foi dissecando
Do dano da “ Cyperus rotundus “ na plantação
De “ Narcissus jonquilla” feita não separando
Dos dois a planta certa na hora da brotação...
Seu Juca deixou o sorriso amarelo no branco
De seu carinho olhou com olhos de passado
Das mãos guiando seus passos até o banco
Das estórias contadas no peito bem abraçado...
Perguntou com ares de criança em travessuras
Lembrando do primeiro palavrão dito da rua
De cadeiras na frente sem meio fio em altura
Do tropeço evitado de pés que vivem na lua...
Entre o bem e o mal aprendido na arte de viver
A escolha cada um deve ter do certo e do errado
Para o tal de “Cyperus” e o tal que não sei dizer
De minha escolha vão ficar sempre lado a lado...
Sem esconder do sorriso ser bom conhecedor
Voltando ao colo querido na arte do aprender
Do solo em mãos de enxada em calos sem dor
Separando do junquilho a tiririca ao nascer...
Do diploma suado em meio a ganhar do porvir
O neto rindo com lágrimas no rosto sem disfarçar
Do abraço apertado na certeza de sempre existir
O velho jardineiro ensinando da vida o caminhar...
Entre o bem e do mal usando sempre compreensão
Do não existir um sem existir o outro a comparar
Do oposto ter preparado da terra buscando perdão
Para que assim floresça a luz na arte do transformar...
De duas batatinhas criando raízes fica a nossa lição
Da tiririca sempre buscar junto ao junquilho crescer
Imitando da folhas verdes e procurando fundo no chão
Esconder na diferença sem flores a batatinha ao nascer...
E o velhinho inquieto olhando da pergunta não feita
Na certeza do saber sentir da verdade dita em oração
Do bem mostrar raízes encobertas mas sem suspeitas
Da colheita prometida em mãos juntas ao coração...
Quando da vida existir o momento do decidir plantar
No presente o futuro para colher em vida as emoções
Procure da batatinha que se mostra fácil desenterrar
Suas raízes mostram não ter medo de criar ilusões!!!
Ah! O seu Juca manda escrever um esclarecimento:
O tal de “ Cyperus rotandus” – é a tiririca, um matinho infernal!
E o tal de “ Narcissus jonquilha” – é o junquilho que tem flores
rosas e brancas...