Cantilena na casa grande
 
 
Em um plano alto no centro da carochinha,
Vozes cantavam,  catavam feijões de seixos 
Em mãos gordas de anéis formando eixos
Girando, e girando para encher a latinha:
 
-Um feijão para a realeza
-Dois seixos para a senzala
-Dois feijões para a realeza
-Quatro seixos para a senzala
 
De tão entorpecidos pelo canto da separação
Seguiam,  esquecidos do amigo no poleiro,
Que da cantilena conhecia todo o roteiro
Repetindo como papagaio, as notas da canção:
 
-Um feijão para a realeza
-Dois seixos para a senzala
-Dois feijões para a realeza
-Quatro seixos para a senzala
 
Vez por outra vez, chegava a vez de alterar
Da ordem o dia de colheita, mudar o eleito
Da imagem conhecida junto ao magro peito,
Chegava a hora dita de contas a prestar:
 
-Dois seixos para a senzala
-Um feijão para a realeza
-Quatro seixos para a senzala
-Dois feijões para a realeza
 
O papagaio de cores verdes, ficava amarelo
E em gaiola dourada ao sol do céu de anil
Passava de mão em mão, feijões em farelo,
Junto aos seixos doados de forma gentil:
 
-Dois seixos para a senzala
-Um feijão para a realeza
-Quatro seixos para a senzala
-Dois feijões para a realeza
 
Era dia de festa no plano alto da carochinha,
Todos paramentados na farta distribuição,
Para os do magro peito na espera da latinha
Entre os dedos sem anéis e o farelo no chão
 
-Um feijão para a realeza
-Dois seixos para a senzala
-Dois feijões para a realeza
-Quatro seixos para a senzala
 
Foi a maior confusão, esquecidos do papagaio
Que repetia sem parar a cantilena decorada,
Os paramentados perderam o rumo da escada
Formando um trem meio torto, meio de soslaio.
 
E o papagaio?

Como todo bom papagaio, continua a repetir:
 
-Um feijão para a realeza
-Dois seixos para a senzala
-Dois feijões para a realeza
-Quatro seixos para a senzala.
 
Amoral da história :
Entre seixos e feijões, a diferença é o maldito do farelo.
QUALQUER SEMELHANÇA COM CATADORES, 
É MER... NA CONSCIÊNCIA.


Ramoore
 

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