PINGO DE CRISTAL


Certo dia, cansado de esperar o amor prometido,
O velho pinheiro com os olhos brilhantes
De lágrimas sofridas e o soluço contido
Na esperança que em alguns instantes

O céu voltaria a ficar pronto para o amor
Trazendo de volta a querida e branca amada,
Que com sua luz envolvente esconde a dor
Da distância, já esquecida na noite passada

Em juras de carinhos e troca de cores,
Sentindo do sorriso a sentença a ser cumprida
De esconder em meio aos ramos, as flores
Incolores do fruto colhido junto à prometida

Que a outro já pertencia, o velho pinheiro
Olhou para o céu e sentindo a doce presença
Da amada, em prece ao Anjo Companheiro
Suplicou perdão e esperando a sentença,

Sentiu no tronco a primeira pancada,
O lenhador batia, repetindo o mesmo movimento,
No pensamento sentindo da sina marcada
O velho pinheiro tombou na direção do vento

Fechando os olhos, na escuridão seguiu a luz
Da promessa sentida no rival ultrajado,
Sem medo seguiu o caminho a que fez jus
E, em meio ao orvalho imaculado,

Em suas verdes folhas nasceu do encanto
Um pingo de cristal, pequenino e reluzente
Aos olhos do sol que enciumado, olhava com espanto
O pinheiro todo enfeitado, ninando o presente.

 

Ramoore

 

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