Leitura Dramática
Este ensaio de leitura dramática,
é um estudo da poesia de Rynaldo Papoy, escrita em 13/11/1992.
Acredito ter correspondido em meias verdades,
a mensagem do Rynaldo.
Se consegui alcançar, apenas a vontade de interpretar a
poesia, é uma vitória.
Se consegui conhecer a alma do poeta,
serei seu cúmplice e
parceiro.
Se consegui recriar em devaneios, sem criar plágio, a
credito
cada vez mais na palavra
a ser interpretada e na liberdade de expressão que
supomos ter.
Renato
Transcrevo abaixo a poesia do Rynaldo e a seguir o Ensaio da
leitura dramática.
Não quero ver...
Não quero ver nenhuma
face da morte.
Sou todo sofrimento e dores
e o medo de ser possuído.
Espero Deus
e sua
tranqüilidade.
Caso os impulsos sejam
cumpridos,
de quem será a culpa?
Eu não sou eu.
Definitivamente.
Quem sou?
O que há em mim?
Projetei minha própria
psicose?
Louco tem consciência de
sua loucura?
Um dia, serei feliz?
Poderei destruir a mim
mesmo, antes que destrua
a alguém?
Por que ela, especificamente,
não sai de meus
pesadelos na vigília?
Oh, Deus,
onde está sua
tranqüilidade?
Eu, realmente,
caminho nas nuvens?
Que espécie
de sentimento obtuso
abateu-se sobre mim?
Eu queria apenas viver
sem ter que lutar
contra os hormônios.
13/11/92
Rynaldo Papoy
FACE A FACE
“Não quero ver nenhuma face da morte,
Sou todo sofrimento e dores,
E o medo de ser possuído
Espero Deus e sua tranqüilidade...”
Não, não é um sonho!
Acredito que excedi a tudo e a todos.
Ultrapassei limites, criei atalhos,
importei
ilusões na realidade de um ponto.
Uma simples picada,
que transforma
e faz a
luz transformar-se em estrela decadente.
Dizem que em Marte, não existem marcianos,
e
sim, americanos.
E eu, não falo marciano,
quero e preciso me
comunicar com o mundo.
Então, tirando as luvas,
escondendo o rosto
suado no suor de minhas mãos,
sinto que unindo as mãos,
seguro todo o Universo
e
posso gritar alto.
É sempre do alto que encontro respostas
e a
cura para meus olhos cansados,
em meu espelho quebrado pelo cinzeiro,
e com
cheiro de detergente.
A pia está suja de vermelho,
o vaso sem
descarga
e a lixeira vazia.
Preciso de papel, muito papel, não vou
limpar nada!
Minha alma está limpa,
tirando os óculos
escuros,
posso enxergar a claridade
dentro do coração que bate devagar,
bem devagarinho.
O chão está frio,
é melhor eu levantar as
mãos,
sentir os pés e dançar.
Deixando a mente repetir:
- sou um ser perfeito,
sou um ser perfeito,
sou um ser perfeito...
“Caso os impulsos sejam cumpridos,
De quem será a culpa?
Eu não sou eu.
Definitivamente...”
Você já dançou sem sentir a cabeça nas
nuvens?
Nem eu!
Mas, quando faço em ritmo descompassado, e
sem ligar o som.
A música vem lá não sei de onde e me faz
voar,
olhando do último andar.
E as pessoas lá em baixo,
continuam a olhar, a
olhar para cima,
e eu a olhar para baixo
sentindo vontade de rir,
rir muito do
choro da menina negra,
no colo da mãe branca,
e cabelo enrolado em pequenas
tranças amarradas com o barbante da peixaria,
engraçado como o susto tem a cor
branca da mãe negra da menina branca.
Ou será que apenas o rosto da mãe é
branco?
Minha mãe tinha olhos cor de mel!
Seu colo era quente e macio.
Seus beijos se perdiam em meus cabelos,
fazendo caracol.
Eu adormecia e me perdia em seus abraços com
cheiro de carinhos e proteção.
Quando acordo, ela já foi trabalhar,
o sol
já se escondeu e a lua escondida embaixo de minha cama
provoca a vontade de
voltar a dançar.
Ela dança nua,
sempre me traz uns trocados para pagar o aluguel
vencido...
“Quem sou?”
O que há em mim?
Projetei minha própria psicose?
Louco tem consciência de sua loucura???”
Minha cabeça está girando.
O mundo gira, gira a terra, gira o sol, gira
a lua.
E ela continua nua, girando para pagar o
aluguel do apartamento.
Vou parar de dançar e marchar.
Mas, preciso cobrir a cabeça,
dizem que
sempre que vemos a bandeira, precisamos descobrir a cabeça.
Vou ficar nu e me
enrolar na bandeira,
rolando todos os meus pensamentos
em espiral desencontrada
formando uma mandala de almas
que marcham em passo certo
e em movimentos de
braços,
esquerdo,
direito,
esquerdo,
direito,
esquerdo.
Minha cabeça obedece ao ritmo,
crescendo
entre o direito
e o esquerdo,
ou será a direita
e a esquerda
que guiando minha
marcha
prova minha decadência,
em farrapos
tenho que unir os retalhos
coloridos
em verde,
amarelo,
azul e branco
e escrever no preto
de minha consciência
a
vontade de continuar girando
enrolado na bandeira
e desenrolando a cada volta
a
reviravolta dos dias que repetem sempre
a mesma
e eterna
dependência
do ponto...
“Um dia, serei feliz?
Poderei destruir a mim mesmo, antes que
destrua a alguém?
Por que ela, especificamente, não sai de
meus pensamentos na vigília?
Oh, Deus, onde está sua tranqüilidade???”
Preciso contar os pontos e transformar em
contos toda esta pressão sentida.
Já não sinto dor, minha cabeça parou de
girar.
A lua está se escondendo,
vestida em lençol
azul,
com rendas douradas.
A primeira vez que vi rendas,
elas eram
negras em pequeno pedaço de pano vermelho
em suas coxas roliças que traziam o
mistério
centralizado no abismo do pecado
envolvendo o ar com um cheiro que
desperta o desejo
de me atirar todo dentro deste abismo.
A menina negra e sua mãe branca,
que voltou
a ficar negra,
já não estão olhando para cima
e o abismo está se fechando
com
medo do sol
que abre a porta da realidade.
Vou ligar para a Dolores e fazer um ponto
novo.
Não sei se no direito,
ou no esquerdo.
Acho melhor voltar a unir a mão direita com
a esquerda,
pressionar o peito em busca de seu colo quente
e voltar a sentir os
cabelos em caracol,
trazendo minha verdade em enxergar sua verdade
e encontrar o
caminho das nuvens...
“Eu, realmente, caminho nas nuvens?
Que espécie de sentimento obtuso abateu-se
sobre mim?
Eu queria apenas viver sem ter de lutar
contra meus hormônios...”
Para caminhar entre nuvens, basta evitar o
sol.
Descobri que, somente, a lua indica o
caminho certo.
É, quando está completamente branca e
redonda,
e segurando na cauda do dragão!
Não há como errar.
Evite as correntes provocadas pelo
deslocamento do cavaleiro
e não solte o rabo triangular do bicho.
Não sei por
que é triangular,
poderia ser de outro formato,
ter uma argola para segurar mais
firme,
sem riscos de soltar
e cair novamente no abismo rendado de preto no
vermelho
de suas entranhas, estranhas e calientes.
Creio em meus ditos malditos e benditos
por
credos e mezinhas
que passam de geração para geração,
sempre com uma pitada de
sal,
gosto mais do açúcar.
O sal deixa um sabor de suor
que sem a mistura
correta me dá asco.
Vontade de vomitar em cima de você,
e
espalhar o cheiro no ar,
para purificar a alma cansada da procura no ser
geminado e ingênuo
que saiu de minha costela.
Não me lembro de ter autorizado o ato
cirúrgico!
Só consigo lembrar que a dor veio depois de
acordar e ter você ao meu lado.
E seus olhos quando encontraram os meus,
perderam toda a ingenuidade,
ensinando-me a gostar de cada vez mais sentir o mel
de seus lábios
e a provar do sal de seus suores,
que se juntando aos meus fazem
minha cabeça girar,
não este giro desconexo e sem sentido de não ter você junto
a mim.
E sim, a volta sem reviravoltas do ser absoluto na razão
de ter a vida
sentida sem ressentimentos das fugas
e noites mal dormidas,
sem estar junto ás
nuvens.
Segure minhas mãos e vamos caminhar entre as
nuvens
Ramoore
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