Virado a Paulista



Não sei das esquinas sem ver de amores
Procuro meio molhado na noite fria
A troca de olhares, pedir favores
Do cigarro em sarro da nostalgia

Na garoa jogo da cinza molhada
Junto ao meio fio no meio do tempo frio
Faço da noite nascer madrugada
Com os pés sem rumos, preso ao desvio

Ando na espera de me entreter
Sem embaraços abraço da ausência
E deixo do nada sem nada fazer

Olho do céu sem ver do céu oculto
Tropeço na trôpega evidência
De ver ao longe a sombra de um vulto


Corro e faço sinal; é o táxi do Abreu!


Bendizendo santos e santas da Sé
Sem botar fé na conversa fiada
Da corrida em voltas no Tatuapé
Tiro da mão em ação desconfiada

Deixo na lapela sem flor, meu cartão
No toque toco do calor sentido
E voltamos a Lapa, na contramão
De juras ao pernoite proibido

Esqueço viver ousadia sem fruto
Mas, como quem planta sabe da colheita
Em marco, marco do Chá, no viaduto

Evito dos olhos traírem meus desejos
E em seus olhos, sinto a cama feita
Desço do táxi, atirando beijos!!!

E o Abreu?
Se não for ao encontro, quem não paga a corrida sou eu!


Após tanto papo sem papar ninguém
Eu que não temo criar papas na língua
Não saio da reza sem dizer no amém
Do ladino não morrer a míngua

Das voltas e reviravoltas nas ruas
Sem e com esquinas de pecadores
Trato do fato no ato de peles nuas
Em lençóis desvirginando pudores

Sinto do riso matreiro tornar audaz
O correr do risco ter aventuras
Na noite de quase tudo sou capaz

Da cantada no canto meio escuro
Deixo claro encontro de procuras
Não sou de ficar em cima do muro!!!

Mato da sede, na rede de abraços...


Sinto da porta quebrar o silêncio
E de passos na ginga conhecida
Vejo do sorriso da Benedita:



- Oi, meu dengo!
- Já estava com saudades!
- Hum! Vejo que temos novidades!
- Você não cometeu um erro de digitação?
- Virado a Paulista?
- Eu nomearia de Virando Paulista!
- Mas, deixa ficar!
- Alguma coisa sempre acontece!
- Pode até parodiar ao Caetano!
- Que os novos e velhos baianos tem muito axé.
- Você sabe que na Avenida Ipiranga...
- Não, não é na esquina da Avenida São João.
- Tinha um rega-bofe famoso pelo Virado a Paulista.
- Pode parar de rir, eu disse Virado a Paulista.
- E o bofe não era bofe!
- Você pegou mesmo o táxi do Abreu?
- Eu? Não, não devo nada!
- Mas, se fosse você trataria logo de nova corrida.
- Meu dengo, vou falar bem depressa, responda rápido!

Umachuvinhavinhademansinhoentrandopelajanela...

- O que você faria?
- Não, não vou repetir...
- Eu, eu escancarava.
- O quê!!!
- Oras! A janela.
- Afinal, quem está na chuva. É para se molhar...
- Voltando ao rega-bofe.
- Você não está com fome.
- Já está pronto.
- E adivinhe quem vem para comer???
- Quero dizer, quem vem para almoçar?
- Credo, até parece premonição!
- Será que depois do almoço...
- Ele me dá uma carona até a 25 de março?
- Brincadeirinha... brincadeirinha...
- Olhe! Eu preparei um Virado pra Paulista nenhum botar defeito.
- Vamos, se você não ficar com o Abreu, ficou eu!

 

Ramoore

 




Receita






Virado a Paulista



Ingredientes
- 500 g de feijão pronto
- 2 folhas de louro
- 3 dentes de alho picado
- 1 cebola picada
- 400 g de toucinho
- cebolinha e salsa picada
- farinha de milho branca ou amarela
- sal e pimenta-do-reino a gosto
- 1 1/2 xícara (chá) de purê de tomate

Para Acompanhar
- bistecas de porco
- arroz branco e ovo frito

Modo de Preparo
Prepare o seu feijão com folhas de louro a gosto e
reserve. À parte tempere as bistecas com sal, orégano,
pimenta-do-reino, alho amassado e vinho branco; ou a gosto.

 

Deixe marinar por 30 minutos.


Para o Viradinho: pique o toucinho e leve-o para fritar
no óleo quente. A seguir junte a cebola, o alho picado,
sal, cebolinha, salsinha, pimenta-do-reino e o purê de
tomate. Cozinhe por 5 minutos acrescente feijão com o
caldo. Cozinhe mais um pouco, abaixe o fogo e vá
ajuntando lentamente a farinha de milho branca ou
amarela. Deixa úmido ou a gosto. Aqueça o óleo numa
frigideira e frite as bistecas.

Em outra panela frite os ovos.
Sirva o arroz, com as bistecas, o virado e os ovos fritos.

 

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