FALHA MAGNÉTICA
Atravessa a escama de ozônio
e faz do Paraíba o ouro da tribo,
Guaianases se fartam de peixe fresco
na imensa lagoa verde, no banhado.
Bem mais perto das "Plêiades" estou,
as palavras,
podem "pranar" no infinito mantra.
Abraçar em silêncio , galáxias.
Posso ver o tempo
circular e eterno
no ciclo da chuva.
Pelo olho de pedra
a água de mina.
A capineira acena ao vento.
O barranco, a capituva,
a cerca de taquara.
Dançando.
No limoeiro em flor,
abelhas.
Catira de moléculas.
Canudo de mamona.
Casinha de jataí,
fieira de capim,
boquinha de lambari.
Da palavra filtro
algo no tempo / espaço
algo que ultrapassa
a capa da cidade.
Não posso sentir
pétalas
e letras
a cair.
Lima o verso.
Limo.
O poema esquecido
no branco encardido do muro.
A poesia sempre foi
minha lição do dia.
Sangue correndo na veia.
Safada safena.
Cruel jugular.
Ela me concebeu a noite
com seu espírito cósmico.
Me fez menino elétrico
que se lambuzava barro
escutando o bairro acordado
também se fez presente
o rosário, a abobreira florida
em volta da menta piperita.
Meu pai nasceu da mentira
singela como faz de conta.
O primeiro abraçado ao baralho,
às damas de paus, ao fernet,
aos valetes, ás bichas,
ás putas, aos condenados.
O segundo abraçado ao sindicato,
às secretárias, aos juizes,
deputados.
Minha avó-mãe reza
orações de fé
na igreja de São Benedito.
Regina Quinhentão,
com sua tesoura: as pernas abertas
Diz:
Goza Juscelino!
Goza neguinho!
Goza Seu Pedro da farmácia!
Goza
Seu Filho da Puta!
Meu primeiro pai, num hotel barato
da rua XV, um efisema o levou.
Regina Quinhentão, dizem, ainda vive.
Lá pras bandas do Pilão Arcado.
Minha avó-mãe continua rezando.
Ricola Marques de Paula
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