A volta



Com as mãos tremendo, levanto a aldrava
e vou bater à porta.
A mesma porta que fechei, há tempos,
jogando a chave fora
Estarão juntos sentados ao redor
da mesa de jantar.
Ele à cabeceira, Ela do seu lado
e um lugar ainda guardado
para quando eu chegar.
A toalha branca, os seis pratos dispostos
segundo a hierarquia,
e os sonhos, os planos, o cotidiano,
a bendita ignorância do futuro
de toda uma família.
Na madeira da porta, o canivete
escreveu o meu nome,
num dia distante cada vez mais perto,
mas, a chuva, o tempo e o abandono,
escorreram uma parte do passado
e, no desprezo que só têm os desprezados,
cuidaram de apagar o A de Alberto.
Lentamente, ponho a aldrava no suporte,
respiro fundo, desço do batente,
deixo em paz meus últimos fantasmas
e parto, abraçado aos meus demônios.
 

Alberto Cohen

 

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