Canção de amanhã
 


Existe um amanhã, depois do ontem.
E as flores que não viam mais sentido
na dádiva da beleza ignorada,
emergirão de suas prisões de barro,
anunciando a volta da alegria.
Por toda a casa, baldes e vassouras,
alucinados pela luz do dia,
desfilarão num carnaval de odores
e espuma branca de afogar fantasmas,
pois uma nova era principia.
Na procura do brilho que perderam,
panelas saltarão de prateleiras
e talheres arrombarão gavetas,
indo cantar receitas muito antigas
embaixo da cascata de torneiras.
Tapetes estendidos novamente,
ressuscitados de uma velha história
a ser contada em mil e uma noites,
conduzirão o rei e a Sherazade
à alcova de mistério e de magia.
E, de repente, o céu terá estrelas
e todos serão anjos como outrora,
janelas abrirão para a beleza
e o mal e o feio ficarão de fora.
 

Alberto Cohen

 

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