ANJOS CAÍDOS

 

Quantos segredos escondidos,

Desmedidos, enigmáticos,

Silenciosos, dogmáticos,

Entre o céu e este planeta,

Mistérios à razão proibidos.

 

Há tantos anjos caídos,

Nas ruas, nas praças, sarjetas,

Sombras que a luz rejeitou,

Sonhos que a sorte negou,

Pesadelos acordados,

Nos campos e nos cerrados,

Desvalidos, descarnados,

Botões de vida se abrindo

Sem um jardim pra crescer,

Lamento pelo olhar fugindo,

Sentindo a mágoa doer.

 

Sopro, essência, viver,

Anjos sem asas, sem céu,

Tão sós em cenário tão cruel.

Infância, carência, espera,

A paz emboscada no inferno,

Anjos-moleques, almas-meninas,

Sem berço e tristes sinas,

Sem pecado e penitentes,

Sem os benefícios da graça

E a mercê de perversa farsa,

Tendo a inocência despida

Numa vida nada indulgente.

 

Pobreza, a fome repartida,

Refém na cruz do seu destino,

Amor, refúgio pequenino

Da dor que açoita e não descansa.

 

Anjos vestidos de criança

Sem pular amarelinha,

São doces ervas daninhas

 No infortúnio plantadas,

Com raízes nas calçadas

Mas brotando por todo canto.

 

Pétalas da flor despojadas,

Rostos de Deus no desencanto.

Sem força para dizer sim,

Sem direito a dizer não,

Começo tão perto do fim,

Um pouco do céu no chão.

 

 Francisco Simões

 

 

 Voltar            Página Principal