Arroz Carreteiro
 



Sentindo das curvas sinuosas e insinuantes
Em carona das mãos o desejo nasceu na ré
Sem julgar do ato o fato não ser incomum
Em olhares que se tornam cúmplices da lua...

Surpreendida pelo apagão do sol na liberdade
Sem ir ou vir na reta do caminho pretendido
Sem ter opção dos pés em pernas cansadas
Resta ao carona aguardar do bom samaritano...

Enquanto os tais senhores da lei e da ordem
Seguem do alto blindado de seus desmandos
Em protesto ao bloqueio de muitos direitos
Resta aproveitar do tempo o tempo perdido...

Em saias rodadas de rosas colhidas na noite
A bendita Benedita no ponto olhava o nada
Nada de ônibus, nada de táxi, apenas o vazio
Deixava na mente o querer não estar ausente...

Da estrada em ligação a liga solta se perdia
Em dia não previsto de ficar presa na deriva
Em apregoadas e ferinas críticas ao estar só
Perdida em devaneios o coração assustado:

- Ah! Minha Santa!
- Não deveria ter saído de casa!
- Bem que meu dengo avisou!
- Não passa uma alma viva...
- Espero que nem os mortos passem!
- Quem sabe eu deva ir a pé?
- Vou sentar e tirar as sandálias!
- Custaram uma nota e este chão de pedras!
- E, não adianta nem fazer pose de Maria Gasolina!
- Não passa nem charrete neste fim de mundo...
- Posso abusar do cruzar as pernas sem medo!
- Cruzes, que susto!
- Ah! É a buzina do Caminhão!
- Caminhão? E que caminhoneiro!!!

Criando do sorriso branco no ébano da face corada
Esquecendo do vento a saia subir fazendo provocar
Dos olhos o desejo de correr em direção à porta aberta
Em braços fortes que cheirando a suor mostram presença:

- A princesa está perdida?
- Pode subir sem medo...
- Não sou o bicho-papão!
- Olhe, sou do bem...
- Esta maldita paralisação é uma merda!
- Estou vindo carregado desde o litoral.
- Não vejo a hora de chegar e...
- Descarregar toda a mercadoria!
- Espero que a princesa fique a vontade...
- Desculpe, meu nome é Armandão!
- Tá quente esta noite!
- Estou com uma fome dos diabos!
- Que foi? O gato comeu?
- Brincadeirinha, mas se o gato não...
- Tá certo, Ditinha, vamos em frente...

Em frente de tamanho pecado resta assumir a ocasião
Não se fazer de rogada à prece atendida no apagão
E fazer do corpo a passagem no prazer da companhia
Em parada obrigatória de passar a mão na contramão...

Sem contrariar a solidariedade prestada de carona ao léu
Encontrar dos caminhos em abraços o prazer dividido
Na conquista da estrada sem bloqueios e ilusões
Deixadas para atrás em um ponto qualquer da partida:

- Ah! Armandão!
- Você me armou uma cilada!
- Não sei dizer não!
- Não, enquanto estiver em seus braços...
- Mas, é que estou com uma fome danada...
- Vamos dar uma paradinha...
- Olhe! Que sorte, outro bloqueio na estrada!
- Sempre tive vontade de comer um carreteiro!
- Não me olhe com esses olhos!
- Eu disse comer um Arroz Carreteiro...

Eu sem parar de rir da confusão contada pela Benedita
A imaginar da cena armada com o tal de Armandão
Em troca de uma carona até um lugar mais seguro
Fiquei de queixo caído pensando no chifre do Zécão

A bendita Benedita tinha saído escondido sem dizer
Da tal cartomante infalível que iria ver da sorte ou azar
E justamente deu azar de um tal comando não legal
Bloquear o clandestino que chegava ao tal lugar...

E com ares de quem sabe da artimanha fazer manha
Sem descer do salto das sandálias de tiras vermelhas
A bendita Benedita rindo da minha cara de espanto
Deu um gingado de roda de samba em Candomblé:

- Ora, meu dengo!
- Sou feita na vida e no Santo!
- Para deitar comigo, tem que ter chamego...
- E não é qualquer Armandão que vai armar comigo.
- Quando paramos no bloqueio, botei o bofe para cozinhar...
- Olhe, anotei até os Ingredientes:
- 1/2 quilo de carne seca
- 2 colheres (sopa) de banha ou óleo
- 1 cebola picada
- 2 dentes de alho amassados
- 1/2 quilo de arroz lavado e escorrido
- 1 colher (sopa) de salsa picada...
- E foi assim que eu comi o Carreteiro...

Ainda rodando dentro de sua astúcia e fazendo charme
A bendita Benedita foi logo dizendo do final feliz
Quando disse de pronto ser mulher de um homem só
O Armandão se desarmou ao ouvir o nome do Zécão

E como todo cavalheiro de estrada dividida na boléia
Sem mesuras falsas da alta roda em dirigir do alheio
O Armandão riu da audácia da mulher do amigo Zécão
E como todo bom camarada desistiu da cantada...

Depois de tanto rodeio e para não esquecer da receita
Vou contar do preparo e da maneira de fazer
E comer o Carreteiro...

Modo de Preparo:

Coloque a carne de molho por 3 horas, trocando de água 4 vezes.
Cozinhe em água por 10 minutos.
Retire, troque a água e cozinhe mais 5 minutos.
Desfie e reserve.
Derreta a banha e frite a cebola e alho,
unte o arroz e frite bem
coloque a carne e complete com água até cobrir 1 dedo acima do arroz.
Abaixe o fogo e deixe cozinhar.
Depois polvilhe a salsa picada.
Servir com farinha de mandioca crua.


Ramoore

 

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