Espelho D´água
Há muito tempo numa empreitada eu segui
E até o fundo da minha alma volitei
Lá chegando tão estranho ente conheci
Que não me contendo a ele perguntei
Ó estranho que dentro em mim habita
Mas que a vil presença nunca antes notei
Diz-me quem és, ó existência maldita
E de pronto resposta indesejada encontrei
Eu sou você na mais escura face
Porque não me notaste logo te direi
Foi pra impedir que você me desprezasse
Que no lodo de sua alma me ocultei
Eu sou o ódio há muito reprimido
Que do amor ferido veio a brotar
Eu sou a dor sepultada ainda viva
Que antigas alegrias terminou por suplantar
Eu sou a maldade sempre viva em pensamento
Quando o falso bem tinha o corpo a comandar
Eu sou a ira fria e mágica do vento
Tempestade escura dentro em ti a derramar
Mas quão estranho questionamento me fizeste
Se ao seu lado desde sempre eu vivi
Talvez porque sempre os olhos tu cerraste
Quando olhava-se no espelho e só encontrava a mim
Agora que a resposta fria encontrou
Ouve bem, pois único aviso eu darei
Saiba que no seu íntimo crescendo estou
Reconheça e dê vazão ou pelos poros sairei
Não coloque em nós a mesma rude máscara
Que muitos outros cegos teimam em usar
Liberte a verdade crua ainda que áspera
Pois passada a tormenta vem o sol a consolar
Eis que assim me descobri partido em dois
Forças opostas em equilíbrio convivendo
Nascendo e morrendo no antes e no depois
Agora harmonizando e enfim se conhecendo
Agora conhecestes uma viagem maldita
Amigo que lê, e que espero, acredita
Em cada um de nós há um demônio em solidão
Dentro de você vive outro na mesma situação
Breno Moore
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