SUNGA, OU SUDÁRIO

 

        
Quando, manchetes fazem de primeira página de jornal,
peça íntima masculina
Ditando tal importância ao fato,
trazem ao leigo um largo sorriso de deboche,
Estourando o peito com estúpida gargalhada,
entre os poucos dentes
Não palitados, ou escovados...
E limpando com o jornal, já amassado,
uma mistura de saliva e cachaça
O leigo, fazendo ares de advogado do diabo,
proclama a liberdade do fantoche
Criado e crismado em único ato,
dramatizando o cotidiano,
ou parlando italiano
Mas sempre manipulado, ou marlenizado em dourado globo,
contudo adorado,
Fazendo em mil histerias,
o grasnar de meninas e comportadas senhoras
Que deixando a água do macarrão no fogo, 
remexem o molho cica
E com um olho no fogão e o outro na televisão,
suspiram suores passados
Um, dois, três...
E o sempre sorridente clone de camelô, bate o martelo
Arrematada e arremessada ao delírio da mulherada,
a sunga cai no chão
Entre empurrões e pontapés, por todos é disputada
e como diz um refrão,
É o amor, que onde bate, fica...
Mas como em todo julgamento, existem a água e o vinho,
na sede do saber
Fazendo em mil artimanhas, 
a busca da verdade contrastada na vida
Sentenciando à morte, o réu crucificado...
O leigo, também, pode ir o dentista
e fazer um novo sorriso branco,
Imaculado, cheio de esperanças 
e certezas de usar óculos não italianos
Deve entretanto olhar para o lados,
todos os lados
e procurar dentro de si
O início de tal configuração herege, 
descobrindo que foi no último ato
E que encoberta na representação, 
a tal sunga nem aparecia...
Tão sublime era a imagem, sem manchetes,
Verbetes, ou bordões globalizados em marcas de cigarros,
Sabão em pó, e mil e uma utilidades 
da deusa dos eletrodomésticos
E fechando os olhos ao mundo de tantos descréditos,
Deve voltar a usar calças curtas,
sem sunga.
  


Ramoore

 

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