MENDIGO

 



(Chico Pereira e Paulo Peres)



Eu broto
igual flor suja, morta...morto...
Eu saio dos bueiros que ficam nos
cantos dos asfaltos
dos grandes centros urbanos.


Eu sou o resto,
a sobra da humanidade
sou o filho do erro
ou o próprio erro
como quem imagina, não vê,
só imagina...


Convivo com o rato
divido tudo com o rato
não tenho visão, nem tato,
audição e nem olfato
Como quem dança numa
breve manhã
como quem emana
do nada
como quem respira
o vazio
como quem espera
um assovio de ninguém ...


A minha água é aguardente
a minha companhia é a solidão
a minha vida não é de gente
e a minha fome é ser cidadão.

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Eu sou o "outdoor" dos políticos
com promessas ilusionistas
de palavras equilibristas
entre tráficos sonhos trágicos.

Eu sou a sujeira varrida
para baixo dos tapetes
das calçadas, das marquises,
máscara, engano e ferida...

Sou a elite vestindo os trapos
do destino, silenciosa e letal
nas cidades em farrapos,
avesso cartão-postal.

Sou o limite humano
do negativo social,
escravo mundano,
poema marginal.

 

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