Penitentes
 


Pelas seis horas da tarde,
num semelhante caminho
àquele de Compostela,
vultos vestidos de negro,
como amores preteridos,
seguiam para onde fosse,
buscando o que não havia,
deixando o que não tiveram,
sabendo que não sabiam.
Pelas seis horas da tarde,
meio noite, meio dia,
no caminho mais agreste,
sem flores, sem passarinhos,
todos vestidos de negro,
sequer numa romaria,
trotavam nos desencontros,
pisavam nos desacertos,
tão tristes que não se viam.
Pelas seis horas da tarde,
num caminho de chegada
às coisas de que fugiam,
perdidos não mais estavam
de tanto andarem perdidos,
os andarilhos de negro,
de noite quase vestidos,
sem lanternas, nem estrelas,
sem crenças, nem desafios.

Alberto Cohen

 

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